"Quando lemos o livro pensamos: é disso que queremos falar!"
Após o sucesso do samba enredo da Paraíso do Tuiuti, A elite do atraso, livro de um dos sociólogos mais importante do país, também serviu de inspiração para o Espetáculo chamado “Os Vikings e o Reino Saqueado”, da Cia Os Palhaços de Rua, de Londrina.
Segundo o ator Adriano Gouvella, a peça nasceu da necessidade de abordar a política atual. “Nina Simone diz que como artista é necessário refletir o tempo em que estamos vivendo. Então pensamos: Não tem como falar só de rosas num tempo desses. Como somos palhaços, há uma maneira específica de trabalhar isso”, defende Adriano, egresso do curso de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Londrina..
A dupla começou a pesquisa da cultura Viking quando Adriano ganhou de aniversário o livro de Jessé de Souza, “A Elite do atraso: da Escravidão à lava Jato”. “Decidimos incorporá-lo. Não usamos o texto original mas o livro tá sublimado na gente”, continua.
Nesse enredo, os palhaços Batata-Doce e Turino lidam com o dilema de suprir suas necessidades mais básicas ou lutar contra os duques (Duck) - que usurparam o trono e saqueiam o país - para devolver o poder ao povo. De forma lúdica e com uma beleza visual que remete aos personagens Vikings dos desenhos animados, o espetáculo de rua tem feito sucesso por oferecer ao público reflexões sobre o cenário político atual. Aborda também os desafios da esquerda brasileira, especialmente as estratégias de mobilização popular e o lugar do centralismo como forma de organização. Mas, diferente da linguagem acadêmica, isso é feito através da união de técnicas corporais circenses e dramaturgia, resultando numa linguagem simbólica que atinge crianças e adultos. Esse é o trunfo da arte para atingir quem está fora da academia: “Nossa formação foi voltada para o teatro físico, por isso a dramaturgia tem que partir do corpo. Para isso nos desafiamos a colocar um texto político”, comenta Adriano.
Jessé, nesse trabalho, desconstrói a tese de Sérgio Buarque, ainda operante na direita e na esquerda, de que corrupção e patrimonialismo são a síntese do Brasil. Apresenta o ódio de classe como uma crescente desde a escravidão, que opera com vigor no Brasil no fortalecimento de interesses neoliberais e enfraquecimento do Estado. A peça é recente mas já recebeu premiações de Melhor ator para Adriano Gouvella e Lucas Turino e Melhor Maquiagem, além das indicações de: Melhor Dramaturgia, Melhor Direção e Melhor Figurino. A cia existe desde 2013 e é formada pelo Lucas Turino e Adriano Gouvella, formados na UEl, Londrina, Artes Cênicas. Patos em cena foram um dos artifícios para identificar a classe que serve de massa de manobra aos interesses econômicos. Jessé, em entrevista para Carta Capital, chama a atenção sobre esse fato: “Quem estava nas ruas não era o povo, era gente que sistematicamente votava contra o projeto do PT, contra a inclusão social”.
Essa mesma gente pode se surpreender se der de cara com a apresentação desse espetáculo pelas ruas: “Ainda não tivemos problema com isso mas o dia em que acontecer vai ser interessante. Estamos preparados”, declara Adriano. Merece um spoiler a cena final que convida a platéia para um expurgo coletivo destruindo patos e arrancando aplausos e palavras de ordem de forma espontânea. “Estouramos as frutas e o povo entra em Catarse. é uma delícia porque é o que a gente tá sentindo vontade de fazer!”, confessa o ator.
Por Gerli Mendes
SERVIçO:
“Vikings e o Reino Saqueado” compôs a "Mostra Pé Vermelho Okupação Fringe 2018"
FICHA TéCNICA
Palhaços-Vikings: Adriano Gouvella e Lucas Turino
Direção: Cia. Os Palhaços de Rua
Dramaturgia: Cia. Os Palhaços de Rua
Figurino: Alex Lima
Maquiagem: Cia. Os Palhaços de Rua
Cenário: Alex Lima e Caio Blanco
Direção Musical: Adriano Gouvella
Arte Gráfica: Dovinho
Pintura do caixote e estandarte: Dani Stegman
Costureiras: Inêz Zeidel e Sueli Pezenti
Fotos: Valeria Félix
Produção: Adriano Gouvella
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